segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Pornô chique










Tudo começou com a Dior: por certa e líquida influência de seu estilista, o iconoclasta profissional John Galliano, no ano passado a grife cobriu os cartazes de rua de Paris com "mecânicas" seminuas, sujas de graxa, em insinuante, digamos, interação com peças de caminhão. Pronto .... estava aberto um filão publicitário que todas as grandes marcas francesas se apressaram em explorar.
Propaganda de moda (e de leite, de chocolate, o que for) que se preze hoje na França tem de misturar glamour, nudez e um toque de perversão. A novidade é o toque de perversão. Na França, como no Brasil, o uso do apelo erótico na publicidade tem uma longa história.
O que chama a atenção na onda atual é o clima pornô-chique, em que a sutileza dá lugar a cenas cada vez mais explícitas. Exemplos em cartaz: a boca cheia de dedos do anúncio da Gucci, o anúncio do perfume Opium, de Saint Laurent, no qual a modelo inglesa Sophie Dahl veste apenas um colar de brilhantes e aquele inconfundível olhar vocês sabem do quê.
A disseminação da publicidade de alta voltagem sexual criou uma tensão inevitável entre duas tendências arraigadamente francesas: a tradição de liberalismo e tolerância consagrada em séculos de história e o movimento feminista, que lá ainda sobrevive em sua forma original.
Na briga, o golpe mais recente veio sob a forma de uma verdadeira contrapropaganda: uma série de anúncios da cadeia de calçados Eram, intitulada "Nenhum corpo de mulher é explorado neste anúncio", que acaba de ganhar o prêmio Publicidade do Ano. Um cartaz premiado anuncia um moderníssimo par de botas pretas, e quem as calça é um avestruz. Em outro, é um homem nu quem posa de sapatos de salto alto. Os criadores juraram que não se trata de provocação e conclamaram as feministas a rir junto com eles, numa espécie de autocrítica coletiva.

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